Wednesday, February 26, 2014
Duna do Meio - Aveiro 8,4/10
A cozinheira de serviço do blog teve que fazer uma breve paragem na confecção da massa azeda, já que as temperaturas frias que por aqui se fazem sentir, impediram a rápida progressão da dita cuja. Mas, como a Miss Sara tem um grande espírito de sacrifício, resolveu compensar-vos com duas críticas gastronómicas, que implicaram grande esforço físico. Um crítico gastronómico, mesmo que de algibeira, abdica da sua vaidade e formosura, submetendo-se ao ganho de inúmeros quilos, com o simples intuito de dar a conhecer, a vós leitores, a riqueza da gastronomia nacional e reconhecer os mestres cozinheiros espalhados pelo país fora. E eu, submeti-me a esta árdua tarefa! Comecemos pois, pelo restaurante "Duna do Meio", situado na bela cidade de Aveiro. Este espaço foi-me apresentado pelo meu prospector favorito e habitual companheiro de mesa, que me tinha falado de um petisco chamado feijocada de samos e línguas de bacalhau, que talvez não fosse adequado ao meu palato guloso mas sensível a determinadas texturas. Mas já lá vamos, que antes das feijocas , atacámos outros petiscos. A entrada foi ovas de pescada com cebola e salsa, temperadas com azeite. Um começo agradável, sem nada a apontar. De seguida veio para a mesa uma travessa com enguias fritas. Pequenas, sequinhas, bem fritas e já sem cabeça, comiam-se inteirinhas, espinha e tudo. Muito saborosas! A acompanhar, uma salada mista bem temperada de azeite e vinagre. Por fim, a feijocada de que vos falei. É feijoca guisada com as línguas e os samos. As línguas têm uma textura semelhante à da carne das postas de bacalhau, daquelas partes mais escurinhas e consistentes. Não tem nada de estranho, caso os leitores mais sensíveis se estejam a perguntar. Os samos, também eles de textura consistente, assemelham-se a uma gelatina mais durinha. Lembrei-me de mão de vitela enquanto os comia, mas estes são rijinhos, enquanto que a mão de vitela se desfaz na boca. Outra semelhança é o facto de o caldo do petisco se grudar aos lábios, o que suponho se deva à gordura largada pelos samos. Agora que já descrevi o manjar, posso assegurar que estava uma delícia e fiquei feliz por ter experimentado. Vale sempre a pena provar algo novo. O acompanhamento foi arroz branco, sequinho, o ideal para aproveitar o caldo alaranjado e espesso, salpicado pelo verde da salsa. Não houve espaço para a sobremesa pois ambas as doses eram generosas e, sendo a hora tardia, resolvemos conter a gula. Aconselho-vos a visitar este restaurante cujos dados estão na página Facebook que vos indiquei acima. Bom apetite!
Os samos, na gíria própria das gentes de Aveiro, são pedaços da barriga do bacalhau onde (à semelhança dos humanos) a gordura se acumula. Cozinhados, adoptam então aquela textura macia e muito suculenta que faz a delícia de quem gosta e o horror de quem não aprecia. Eu gosto muito.
ReplyDeleteFui a este restaurante pela 2ª vez e, não sendo um Olimpo da gastronomia, é sem dúvida casa de gente de bom gosto que ainda não se deixou contaminar pelos ares alheios e continua a apresentar a boa tradição da sua zona.
Muito obrigada por nos elucidares sobre o que realmente são os samos, informação que foi negligenciada pela Miss Sara.
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